sábado, 18 de fevereiro de 2012

Em desistência pessoal.

O que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesmo.
(Clarice Lispector)

Sábia frase de Clarice ...
Verdadeiramente a vida nos ataca de maneira tão sarcástica que a imoralidade da desistência nos atinge de tal modo que tudo oq queremos é nos jogar num abismo. Mas que abismo seria esse afinal? Um abismo fúnebre? Não, isso são poucos os que conseguem (ainda bem!)
O abismo pode ser um escape contraditório áquilo que sempre defendemos, áquilo que foge de nossa ética, de nosso relatório de vivência. Caímos onde nunca pensamos.
Talvez a escuridão não esteja só no ato de se apagar as luzes, no ato de fechar os olhos ou andar aleatóriamente pela vida sem um rumo certo, a escuridão pode vir da alma onde a dor e a cegueira são maiores, onde a escapatória está além do que muitos aceitam e crêem.
"Um abismo chama outro abismo" - a bíblia assim nos diz e com isso o abismo da tristeza chama a lamúria, que chama o pranto, que chama a impaciência, que chama o desespero, que chama a angústia, que chama a ilusão, que chama a ruína. Nada se pode fazer referente aquele que se joga num abismo, ainda que inconscientemente, sem que ele estenda as mãos ou permita ser pego no colo.
Os abismos da vida nos calam, nos prendem, nos ridicularizam muitas vezes perante os nossos a ponto de perdermos qualquer tipo de dignidade, viramos fantoches de nossas próprias desilusões.
Fraqueza? pode ser sim. A carne é fraca em todos os sentidos,até mesmo para suportar as tamanhas dores e tribulações que se apresentam, não somos fortes o bastante, não somos sábios o bastante, somos de barro frágil, sujeitos a caídas e recaídas nas sarjetas do desgosto.
Dificil é desistir de nós mesmos, talvez essa seja a maior desistência encontrada em cada um, em cada vida. Desistir não é derrota, ms quando se trata de nós, pode sim nos derrotar. Nos levar para calamidades piores, nos deixa como brinquedos vulneráveis do vento, jogados onde quer que ele sopre.
Desistir de nós é ato de puro desgaste, de puro cansaço, de puro "não aguento mais!" e nessa hora devemos pensar: não aguento ou não ME aguento?
Dilemas ... somos feitos deles, presos em nossos sofrimentos mal entendidos, somos feitos de risos, de alegrias, de cantos e de júbilo, mas tbm somos feitos de prantos, de separações, de tristezas e de desistências...

A necessidade do meu escrever transparece a minha fragilidade inconfessável.

Romeu & Julieta
( Willian Shakespeare)

Cena II
Jardim dos Capuletos.
Entra Romeu.




Romeu - Ri das chagas quem jamais foi ferido!
Mas, silêncio! Que luz reluz através daquela janela! É o oOiente e Julieta e é o sol! Surge,claro sol, e mata a lua cheia de inveja, já doente e pálida de desgosto, vendo que tu, sua serva, és bem mais bela do que ela! Não a sirvas porque é invejosa! Seu traje de vestal é doentio e verde, e somente os bufões o usam. Rejeita-o! É  minha dama! Ela é o meu amor! Oh! Se ela soubera! Fala,entretanto, nada diz; mas que importa? Falam seus olhos; vou responder-lhes! ... Sou muito atrevido. Não está falando comigo. Ditas das mais resplandecentes estrelas de todo o céu, tendo alguma ocupação, suplicaram aos olhos dela que brilhassem em suas esferas até que elas retornassem. Que aconteceria se os olhos dela estivessem no firmamento e as estrelas em sua cabeça? O fulgor de sua face envergonharia aquelas estrelas, omo a luz do dia a de uma lâmpada! Seus olhos lançariam de abóbada celeste os raios tão claros através da região etérea que cantariam as aves acreditando ter chegado a aurora! ... Olhai como apoia o rosto na mão! Oh! Quisera eu ser uma luva sobre aquela mão para que pudesse tocar naquele rosto!
( ... )


Julieta - Somente teu nome é meu inimigo. Tu és tu mesmo, sejas ou não um Montecchio. Que és um Montecchio Não é mão, nem braço, nem rosto, nem outra parte qualquer pertencente a um homem. Oh! Sê outro nome! Que há em um nome? O que chamamos de rosa, se tivesse outro nome, exalaria o mesmo perfume tão agradável; e assim, Romeu, se não se chamasse Romeu preservaria essa cara perfeição que possuí sem título. Romeu, despoja-te de teu nome e, em troca de teu nome, que não faz parte de ti, toma-me por inteira!





quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Candidate-se á confiança.

*Diz se que confiança é o ato de deixar de analisar se um fato é ou não verdadeiro, entregando essa análise à fonte de onde provém a informação e simplesmente considerando-a. Se refere a dar crédito, considerar que uma expectativa sobre algo ou alguém será concretizada no futuro.*
Confiança pode ser prova de amor, de amizade, de caridade, se amor fraternal e supremo, de inocência e ingenuidade.
Feita de puro cristal, reluz na alma pura de quem a possui, reluz ainda que ñ seja ouro, ma reluz pelo simples fato de existir.
Confiar é se entregar, acreditar cegamente, deixar dúvidas de lado e queimar-se com o fogo da lealdade, onde amor engloba tudo isso. A fé é a base da confiança, o amor a rega e a caridade a mantém.
Confiar, confiar, confiar. Palavra duvidosa hoje em dia, pinta-se de anjo e nos derruba quando levanta vôo, flutua na imaginação fantasiosa de quem ainda não perdeu a meninice, não se perdeu de ser infantil.
A confiança nada mais se resume ao ato de não ter dúvidas! Ponto, nada a se discutir! Mas afinal tenho eu outra definição para tal sentimento.
Digamos que assim: " Confiar em Deus é a essência da minha vida. Confiar no ser humano é a essência da minha tolice."

Se você depende, você não é livre, é preso!

Por uma vida ela observou algumas reações que uma briga de casal pode causar, não imaginava que pudesse se manifestar em algo físico, não estou falando de agressão, estou falando de consequências.
Olhava e via que quando um casal brigava a esposa no outro dia passava mal, amanhecia doente, cheia de dores. Quando pequena ñ entendia nada, nem sabia os motivos da briga, mas tornando-se adulta e visualizando um pouco mais a vida percebeu que aquilo era estranho. Estranho mais ainda como um casal passava a vida só se engalfiando ... mas isso é outro assunto.
Pois bem, o diagnóstico informal era somente esse: dependência emocional. Só podia ser!
Nos dias q tudo parecia bem, nada de reclamar de dores, nada de cara amarrada,sorrisos! Quando vinha a tempestade conjugal era humilhações, ofensas, palavras q doíam mais que um estalo na face e daí no outro dia, lá estava a "amélia" doentinha.
Ela no entanto pensou: mas q coisa é essa? como uma briga pode afetar tanto assim uma pessoa? É ... falta de amor próprio talvez, falta de superioridade, falta de confiança em si e pura, mas pura carência. A esposa ñ se permitia a liberdade, nem física e nem emocional. Punha obstáculos em absolutamente tudo para se livrar das algemas, não queria. Outra verdade que nem ela, a esposa, sabia. Ela simplesmente ñ queria ser livre! Queria mudança, mas ñ mudava, queria que o esposo mudasse e ele por sua vez, ah ... nem ai!
Com tudo isso ela que já era adulta começou a ter aversão a muita coisa, como seria sua vida se agisse como a esposa e aquele esposo? Choro, decepção, mentiras, desunião, falsidade, fachada. Não! Não admitia que isso fosse com ela, daí começou a pensar: se eu quero ser livre tenho que começar a voar por mim. A gaiola não pode me prender e me subtrair assim, a gaiola deve ser meu repouso, meu alicerce, meu ninho onde eu tenha pra descansar, pra chorar, pra desabafar, pra me recompor. A gaiola ñ pode me limitar a sua vontade apenas, a gaiola deve me completar, não me subjulgar.
A algema da alma ñ pode ser perversiva, nem doentia, nem submissa ao desamor. Que domínio posso me permitir que uma união tenha sobre mim? O domínio de dependência onde eu necessite severamente respirar o mesmo ar que a gaiola? Não, ela poderia se reclinar na gaiola, poderia se ver envolta em grades que lhe serviriam de proteção e união consigo mesma, não como uma sessão de tortura onde sua cabeça se rebaixa sem soprar seu canto.
Ela então entendeu: amor não pode prender assim, não pode nunca ser dependência, mas troca! Como uma barganha, como uma oferta mútua. Aquela esposa nunca seria livre, pq ela ñ queria ser.
Mas e a gaiola? hum... a gaiola continuava soberba, autoritária, perversa consigo e falsa com os outros. "Eu a prendo" - dizia - isso lá é vida?
Sei não. Sei que ela se despediu da esposa e olhou a gaiola e disse: Você não é esposo, oh gaiola, você é terror.

Porque um pouco de Shakespeare acalanta um coração transtornado.

SONETO CV
Não chame o meu amor de Idolatria
Nem de Ídolo realce a quem eu amo,
Pois todo o meu cantar a um só se alia,
E de uma só maneira eu o proclamo.
É hoje e sempre o meu amor galante,
Inalterável, em grande excelência;
Por isso a minha rima é tão constante
A uma só coisa e exclui a diferença.
'Beleza, Bem, Verdade', eis o que exprimo;
'Beleza, Bem, Verdade', todo o acento;
E em tal mudança está tudo o que primo,
Em um, três temas, de amplo movimento.
'Beleza, Bem, Verdade' sós, outrora;
Num mesmo ser vivem juntos agora.













De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfange não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma para a eternidade.
Se isso é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.




Soneto 35
Não chores mais o erro cometido;
Na fonte, há lodo; a rosa tem espinho;
O sol no eclipse é sol obscurecido;
Na flor também o inseto faz seu ninho;

Erram todos, eu mesmo errei já tanto,
Que te sobram razões de compensar
Com essas faltas minhas tudo quanto
Não terás tu somente a resgatar;

Os sentidos traíram-te, e meu senso
De parte adversa é mais teu defensor,
Se contra mim te excuso, e me convenço

Na batalha do ódio com o amor:
Vítima e cúmplice do criminoso,
Dou-me ao ladrão amado e amoroso.














Soneto 17
Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.

Ás vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.

Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:

Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.














HAMLET: Pode-se pescar com um verme que haja comido de um rei, e comer o peixe que se alimentou desse verme.

O REI: Que queres dizer com isso?

HAMLET: Nada; apenas mostrar-vos como um rei pode fazer um passeio pelos intestinos de um mendigo.




terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Se fui assim feliz tal tempo já me foi tomado. Hoje me lembro da ternura inocente que me suplantava e que hoje não mais me envolve. Lembro-me de pequenas mãos e hoje as contemplo calejadas e surradas, nem o carinho as contém, nem os abraços as molestam. Hoje, hoje acordei sabendo que a vida era desastrosa e o pior, continua sendo.
Se talvez olhasse para o ontem poderia encontrar os olhinhos mais puros e alegres de uma rua, talvez encontrasse a beleza pura e ingênua jogada eternamente ao nada perdido nos dias. Foi-se.
O ruído do coração hoje é outro, os olhinhos possuem outra visão, a boca sorri de modo disfarçado pela evolução inevitável da vida e pela recaída de ter acordado tarde. Tarde não em horas, tarde em tempo.
Pássaro quando preso canta de dor, de lamento tendo sua liberdade ceifada e chefiada, criança adormecida e despreparada também ... chora pela chefia de não ter sido ensinada.
Calo-me em voz e pranteio em palavras, essa é a forma mais conveniente da covardia (ou da arte) ai quem o lê pode julgar. Calo-me em pranto pelo cansaço de não saber lutar, calo-me porque fadas tornaram-se bruxas e por saber que a realidade sempre foi uma realidade, só que escondida.
Eis que bate aquela vontade de se esconder, aquela tristeza que te corrompe e te rebaixa ao mais profundo abismo. Escuridão, choro que não sai, luz que não se acende.
Dali se olha e nada pode se ver, tudo quieto, parado, sem rumo e direção. Por mais que ande seu pé não se move, se move não lhe leva a lugar algum. O pranto bate, mas a porta externa não se abre, chore por dentro então...
O grito sufoca, a palma da mão trava, o pé já desiste. O olhar se rebaixa, a cabeça se declina, tudo cinza, cores ficaram iguais, sol se escondeu, esperança morreu.
"De que adianta tanto?" - você pergunta- Mas, cadê resposta? Por mais que ela venha em meio a dor não se quer palavras, precisa-se de atos, de ações, de apalpar, como Tomé ... infelizmente.
Nem sei o caminho, você menos ainda. Se sabe não pode conduzir, só indicar. Mas os pés não andam, se andam o destino é para trás, nunca um passo a frente, sempre recuando.
Triste, desolados, ás vezes essa é a razão que nos desperta, pois a vida não se recolhe e bem lá no fundo nem é isso que deseja. Deseja viver, vencer, cantar e saltitar, mas como? Esse é o mistério que a dor não desvenda, como?